Às vezes, é necessário negar o conceito de amor como o conhecemos e, principalmente, como o praticamos. Precisamos amar nossos filhos e a sociedade como se estivéssemos treinando um cão de guerra. Um animal preparado com um único e cruel objetivo: sobreviver, nos proteger e atacar instintivamente quando necessário. Não criamos um cão de guerra apenas para ser nosso melhor amigo. Ele é treinado para cumprir funções em possíveis e inevitáveis conflitos, sejam internos ou externos. Contudo, esse processo não acontece da noite para o dia.
Treinar um cão de guerra forte, inteligente e obediente exige investimento e tempo. O maior esforço está na educação, que deve ser voltada à disciplina e à conduta, preparando-o para desempenhar suas funções de forma eficiente: proteger, sobreviver e atacar quando necessário. Além disso, a alimentação é indispensável para sustentar tanto sua força física quanto o vínculo de obediência.
Nesse contexto, entra a fase das recompensas – as justas recompensas. Não se educa um cão sem recompensá-lo, pois a comunicação entre o treinador e o animal está intrinsecamente ligada à alimentação. A recompensa, portanto, não é gratuita, mas uma troca: o que queremos que o cão faça em troca do que ele deseja para cumprir os comandos. Essa relação fortalece o vínculo e a eficiência do treinamento.
Estamos falando aqui de uma programação por meio de uma educação objetiva. Durante essa jornada, o carinho e o afeto devem ser secundários, mas nunca descartados. O amor, em doses controladas, é essencial para construir um vínculo inevitável, mas ambos – treinador e cão – precisam estar preparados para enfrentar dificuldades e até a perda um do outro. Nesse exemplo, tratamos o animal como uma máquina, mas com responsabilidade e respeito ao seu propósito inicial.
Ao adotá-lo como um ente querido, criamos uma relação de responsabilidades mútuas. No entanto, é fundamental não esquecer o objetivo original: o cão não deve ser apenas um companheiro, mas um guerreiro. Não será em toda chuva ou frio que ele terá abrigo; nem sempre receberá demonstrações de amor. A alimentação será frequentemente racionada, pois o propósito é forjar um ser preparado para desafios, conflitos e, acima de tudo, para o sacrifício necessário ao cumprir sua missão.
A questão é: quem deve estar mais preparado, o cão ou o treinador? Se sua resposta foi o treinador, você está certo. Caso contrário, você não está apto a criar um filho ou viver em sociedade.
A analogia entre criar um cão de guerra e educar filhos ou conviver em sociedade é um alerta para a disciplina que devemos ter na formação das próximas gerações. Assim como o cão, nossos filhos inevitavelmente agirão por instinto em determinado momento, tomando decisões próprias – seja em conflitos ou na busca por afeto. Com o passar do tempo, treinar novos comportamentos ou ensinar novos valores torna-se mais difícil, ou até impossível. É nessa fase que precisamos confiar no aprendizado mútuo acumulado ao longo dos anos.
Criar um filho é similar. Se você atende todos os seus desejos sem exigir nada em troca, estará comprometendo sua formação. Alimentá-lo com fast-food e guloseimas a cada birra não o ensinará disciplina. Abraçá-lo sempre que chorar por não ganhar o brinquedo desejado mostra que você é o elo mais fraco. Isso resultará, provavelmente, em um adulto mimado e sem resiliência.
Na pré-adolescência, oferecer abrigo com tudo pago sem exigir contrapartidas forma indivíduos sem compromisso ou objetivos. Na fase adulta, acolher o filho toda vez que ele se separa da esposa, fica desempregado ou está sem dinheiro comprova que você falhou como pai. Preparar nossos descendentes para desafios simples hoje garante que eles enfrentarão desafios maiores no futuro.
A formação de uma sociedade útil começa com a capacidade de nossos filhos trabalharem, se defenderem e se desenvolverem. Contudo, o legado familiar e a construção de uma identidade independente e autossuficiente dependerão exclusivamente deles. Depois de "desmamados", o papel dos pais chega ao fim.
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